Enjoy.
O que você já fez no âmbito musical? Em que bandas, grupos, duplas sertanejas você já tocou/cantou?
Bom, formei minha primeira banda aos 12 anos, mas meu primeiro show foi aos 10, no Teatro Francisco Nunes, em BH. Eu era violonista do cantor e compositor Fabiano Nascimento, que hoje está radicado na Espanha. O repertório era basicamente MPB autoral, mas também tinha desde Chico César a Pink Floyd no meio. Durante a adolescência, passei por bandas de diversos estilos, desde punk rock até pop tipo anos 1950, passando por no-wave, grunge, blues e o que mais pintasse pela frente. Entre esses projetos, sobressaíram As Horas e o Spooler.
As críticas que você escrevia para a Zero eram sobre isso?
Eram resenhas de discos recém-lançados. Eu tinha 16 anos e havia montado um blog de pseudônimo pra falar besteira com pegada de literatura pop, inspirado no Brazileira!Preta, da Clarah Averbuck, e no extinto Vulv-O-Rama, da Simone do Vale. Volta e meia resenhava alguns discos, como clássicos do Velvet Underground e do Blondie, e sempre gastava dezenas de linhas para criticar outras coisas. Comecei a ter um monte de acessos (era a época do boom dos blogs) e mandei um email pro Luiz Cesar Pimentel, que editava a Zero, oferecendo colaboração. Para minha surpresa, ele topou e fiz por alguns meses. Entre os discos sobre os quais escrevi, lembro do Thickfreakness, do Black Keys, e do Quebec, do Ween. O site saiu do ar há anos, mas tenho tudo impresso e guardado.
Você toca o quê? Aprendeu como? E o que despertou o interesse pela música?
Estudei violão dos oito aos 12 anos. Como as aulas eram em casa, aproveitei para ter noções de outros instrumentos que tinham por lá, como piano e bateria. Gaita e flauta transversal aprendi sozinho, também nessa época. Já técnica vocal foi a partir dos 14. Não me lembro de um momento em que a música não fosse importante pra mim. Há a lenda de que eu nasci com o anestesista cantando “Agonia”, do Oswaldo Montenegro, devido aos choramingos da minha mãe na hora do parto. Isso não deve ter feito bem à criança [risos]. Minhas memórias de infância se misturam com a música pop do fim dos anos 1980, como Michael Jackson, Madonna, Men At Work e afins. Aos sete anos, descobri o rock alternativo dos anos 1990 e comecei a moldar meu gosto: ouvia Garbage, Smashing Pumpkins, Pavement, Beatles, Stones, Alanis Morissette e as boy/girl bands dessa época ao mesmo tempo. Pra mim, estava tudo certo, não havia preconceito musical.
Explique o quê e por que Spooler? E quais as influências de letras e melodias? O que é cover e o que é autoral? Que influências fora das músicas (literatura, cinema) vocês também colocam nas músicas?
O Spooler surgiu do inesperado. Montamos o projeto sem qualquer pretensão, e nos impressionou o feedback positivo que recebemos assim que colocamos nossas primeiras músicas na Internet. A banda é um duo porque não conhecíamos mais ninguém que comprasse nosso conceito na época da formação. Gustavo e eu nos conhecemos na faculdade e, conversando sobre música, descobrimos em comum o gosto por pop dançante, o que não tinha nada a ver com as nossas respectivas bandas. Fomos encontrando referências convergentes na new wave (Devo, B-52’s, Depeche Mode), no pós-punk (Siouxsie & the Banshees, Joy Division) e nos indies de agora (Gossip, Matt and Kim, N.A.S.A.), mas também damos valor a preciosidades pop que muita gente rejeita, como Ace of Base, Baltimora, bandas da disco music como Eruption e Ottawan, e trilhas sonoras clássicas de filmes, como Flashdance e Dirty Dancing. Tudo isso se reflete na sonoridade da banda.
Já as letras inicialmente eram mais situacionistas, utilizando acontecimentos supostamente banais como matéria-prima. Recentemente, começaram a tomar uma cara mais jornalística, comentando crimes e questões discutidas em sociedade, mas sem falso moralismo. Quando possível, até com humor. Esse lance de escrever sobre amor, da forma com que todo mundo faz, é tedioso.
É realmente muito complicado conciliar a rotina de músico e jornalista? O que atrapalha e em que ponto uma carreira corrobora com a outra?
Até agora está dando pra conciliar bem. Vamos ver na hora em que as atividades da banda começarem a se intensificar. Mas o ofício em si ajuda com o desenvolvimento e a temática das letras, assim como o exercício da arte ajuda a melhorar os recursos criativos das pautas. Uma mão lava a outra. O próximo trabalho do Spooler será bastante inspirado por casos jornalísticos. No fim das contas, é tudo criação de cultura, só que feita de forma mais ou menos subjetiva. Não há tanta diferença entre arte e jornalismo, como Capote, Talese, Mailer e o resto daquela turma podem atestar.
Qual sua visão sobre a música independente em Minas Gerais, e que alternativas as bandas têm de divulgar seu trabalho? Óbvio que as redes sociais estão no topo de todas as estratégias de marketing, mas há outras iniciativas, coletivos, festivais que merecem ser citados?
Acredito que as coisas estão melhores do que há dois anos, mas ainda há muito a ser feito. A cena de Belo Horizonte agora tem uma base, por meio de iniciativas como o BH Indie Music, coletivos como o Pegada, Forceps e Queijo Elétrico, além da visão de algumas casas de show e produtores. Mas ainda resta estabelecer um diálogo com a cena nacional e internacional, além de buscar ampliar o público da música independente. As redes sociais são recursos importantes nesse processo, e já se tornaram de primeira necessidade para todas as bandas, com ou sem gravadora. O importante é promover o bom entretenimento e a boa arte, não importando os meios.
Colocar a sua música para ser ouvida parece ser imperativo para o sucesso de uma banda independente. O que você acha da política de direitos autorais brasileira? O que pode ser feito para proteger artistas e não limitar o acesso do público?
Direito autoral é uma questão que dá pano pra manga, ainda mais com a reforma pleiteada agora pelo governo. Temas como a natureza da arrecadação e como trabalhar a atribuição e o próprio direito em tempos de internet e ampla gratuidade devem ser discutidos para chegar a termos bons para o público e para o autor. Acredito que a estrutura também merece uma desburocratização, passando a trabalhar com uma estrutura mais enxuta. E também buscando meios de maior eficiência, sem dedicar tempo e dinheiro a punições ridículas, como no último relatório da RIAA.
Mas para as bandas independentes iniciantes, que detêm os direitos sobre seu trabalho, vale a pena divulgar o trabalho gratuitamente como uma forma de investimento. Grana é consequência, e somente o artista sabe que concessões fazer ou não.
Em que pé está a banda? Gravando? Produzindo? Fazendo Shows? E os outros projetos, como As Horas?
Eu e Gustavo estamos gravando o primeiro disco do Spooler, em casa, com comodidade e tempo. As músicas novas têm mais elementos eletrônicos do que as anteriores, mas também trazem mais influências da disco music, do afro-pop e do stoner rock. Ainda não sabemos quando será lançado, mas queremos que seja o quanto antes. As Horas passa por um hiato agora, com a intensificação do trabalho do Spooler e com o novo projeto rock’n roll de Ivan e Victor, chamado Morfina.
Sei que você já foi para Uberlândia fazer shows. Em que outras cidades você já tocou? Tem uma sensação diferente (do tipo, somos uma banda de verdade) ao pegar uma van e sair pela estrada se apresentando?
Com projetos anteriores, já toquei em Montes Claros, Uberlândia e alguns outros lugares do interior de Minas. O Spooler ainda está restrito a Belo Horizonte, apesar de já termos convites para tocar em São Paulo e no Rio. Mas realmente é outra sensação. Você toca para pessoas que nem conhece e que foram lá pra te assistir, faz novas amizades e parcerias, é muito interessante. Fazer isso em tempo integral é um desejo que alimento.
Que outras bandas de MG merecem destaque?
The Hell’s Kitchen Project, Junkbox, Julgamento, Proa, Dead Lover’s Twisted Heart, Renegado, Bertola e os Noctívagos, Dmor, Valsa Binária, Festenkois, Monograma, Quase Coadjuvante, Indiada Magneto, Morfina, Fadarobocoptubarão… Um monte, vou acabar deixando de citar alguém.
O que você ambiciona como músico? E como jornalista?
Ter satisfação com o que faço e oportunidades de trabalhar com bons profissionais, assim como agora. Ser reconhecido é outra meta. E ter uma boa fonte de renda também não faz mal a ninguém [risos].
Nenhum comentário:
Postar um comentário